TRISTESSE
Eis que minha tristeza é teu encanto
O que te nutre, te salva, purga, deseja
Tua crueldade me foi espanto!
Por que escarrar na boca que te beija?
Se não me gostas o quanto te gosto, que seja!
A vida é feita de tragédias feitas de encanto
Mas ao tratar-me como verme que te traceja
Abdicastes de tua humanidade, despistes teu manto
Agora vou, destratado, expulso, idióta
Cretino, tolo, mas te amando
Mesmo pescoço posto à tua bota!
Interrompo essa merda porque dói!
Entenda: dói, dói, dói!
E não há rima ou forma
Que comporte tanta dor e desespero
Tanta Ilusão, tanta miséria
Tua alma é feita de4 misérias e pequenas coisas
Te vingas daquele que representa
Tua fraqueza pregressa!
Parabéns!
Estás morta!
Eis que minha tristeza é teu encanto
O que te nutre, te salva, purga, deseja
Tua crueldade me foi espanto!
Por que escarrar na boca que te beija?
Se não me gostas o quanto te gosto, que seja!
A vida é feita de tragédias feitas de encanto
Mas ao tratar-me como verme que te traceja
Abdicastes de tua humanidade, despistes teu manto
Agora vou, destratado, expulso, idióta
Cretino, tolo, mas te amando
Mesmo pescoço posto à tua bota!
Interrompo essa merda porque dói!
Entenda: dói, dói, dói!
E não há rima ou forma
Que comporte tanta dor e desespero
Tanta Ilusão, tanta miséria
Tua alma é feita de4 misérias e pequenas coisas
Te vingas daquele que representa
Tua fraqueza pregressa!
Parabéns!
Estás morta!
TEU
Me sinto a mais imbecil das criaturas
Síntese de dejetos feita de carne e ossos
Me sinto mal
E o que era para ser um soneto
Vira meu vômito
Meu grito e extertor
E o que era para ser rima
Vira ódio autofágico
Vira morte e sangue
Fede
Me sinto o mais triste dos homens
Degredado do maior amor que tive
Me sinto esvaindo pelos olhos
Porque me sinto teu
Porque sou teu
SERPENTES
Amo como amam as serpentes
Enroscado, contorcido, faminto
Amo como quem grita
E ao mesmo tempo sussurra
Amo como quem mergulha dos abismos
Amo como rastejo
Amo como quem dança
Como quem dança dentro de outro corpo
Como se fosse o outro corpo
SEDE
ABATO MINHA SEDE
NA VERTENTE QUE CORRE
ENTRE TEUS PÊLOS
NA SEIVA ACRE
NO BEIJO
EM TUA SEGUNDA BOCA
ABATO MINHA SEDE
ONDE SACIAS TUA FOME
RATAZANA
Tu és ratazana
Roendo a corda
Em que te equilibras
TEUS OLHOS
Quero ver em teus olhos
O rubor sanguíneo
De quem
À hora morta das noites
Engole estrelas e desvela
O mais íntimo segredo do corpo
Quero um dia ver em teus olhos
A umidade oceânica
De quem
À fração exata do tempo
Mergulha no abisso de meus olhos
E faz
Da inutilidade dos relógios
Gozo
E poesia
INCONTIDO
Quero que me empurres Contra a parede
Com teu dedo indicador
Suave, sobre meus lábios
E sentir teus seios
Quase perfurando meu peito
Quero sentir tuas coxas
Nervosas, trêmulas, tesas
Comprimindo meu sexo
Despertando o selvagem
Que se arremessa sobre ti
Rasga tuas roupas
E entregue
À mais absurda das gulas
Rola contigo
Incontido
Puro
PUDESSE EU
Pudesse eu
Repousar meus ouvidos
Entre tuas coxas
E meus sonhos em teu peito
Pudesse eu
Despir-te
Dessa sanidade inclemente
Revelando-te
À loucura de meus paraísos
Pudesse eu
Vasculhar as dobras
De teu corpo
Descobriria em ti
A mulher
Que mesmo tu
Insuspeitas
PAIXÃO
Paixão é armadilha
Teia, labirinto
Cadafalso
Caminho sem destino
Que se caminha descalço
É o olhar vermelho
Úmido, exultante
É querer sem ter descanso
E tendo
Jamais ter o bastante...
GARGANTA
Sorvo o suco
Que entre os meandros de um quase rio
Escorre entre tuas coxas
Derramadas sobre meus ombros
Sorvo
Até que um grito
-quase gemido
Saia de tua garganta
E ilumine o mundo
O GRITO
Mentirosos os que dizem
Que cabelos e unhas não dóem
Não há o que não doa em mim!
A alma, agarrada a minhas pernas
Os olhos cravados no chão
O cheiro azedo das flores
O gris das paisagens internas
A música das betoneiras...
Ao menos poderia sobrar um grito...
ENJEITO
Que meu pulso chore
As lágrimas vermelhas do enjeito
Que vomite a morte desse sonho tísico
Que gritem, minhas veias
A podridão de teu nome
Pela última vez
Que meu pulso chore
As lembranças que ainda resistem
MORTE
Queria não ser o miserável
Que vomita certeas no meio-fio
Queria não ser o sorriso da morte
Refletido nos espelhos do mundo
Queria não ser um grito
Feito de carne e soluços
Queria não preferir a morte
ORAÇÃO DOS MALDITOS
Creio na morte acima de todas as coisas
Creio na saciedade dos vermes
Na finitude da alma
No peso da terra
Creio no crepitar dos círios
Velando a inexistência
No algodão enfiado às fuças
Nos gases inchando o corpo
Pois é metano o futuro
Creio no desfazer das carnes
E no azedume de todos os velórios
LÁGRIMAS
O que te escrevo
É a dor que ocultava
Entre os olhos e as pálpebras
Entre a língua e o verbo
O que te escrevo
É a lágrima
Que desce em segredo
SURPRESAS
Tuas surpresas vomitam ódio
Tuas surpresas
Revelam teus infernos ocultos
E o futuro disforme
Que te devora
INTENÇÃO
Mesmo
À palavra morta
A intenção
Será poeta
MISERÁVEL
Queria não ser o miserável
Que vomita certezas falsas no meio-fio
Queria não ser o sorriso da morte
Refletido nos espelhos do mundo
Queria não ser um grito
Feito de carne e soluços...
...queria não preferir a morte
VÉSPERA
Nada mais criativo
Que a loucura provocada pela dor
Que a ausência de futuro
-teto descendo sobre a cabeça
Nada mais criativo
Que a véspera
Do suicídio
VEIAS
Virá destas veias
O sangue que suprirá teu orgulho
Virá destas veias
O mesmo sangue
Que vaza de meus olhos
O alimentra tua podridão
Virá destas veias
O adeus
Rubro e líquido
Que tanto anseias
PULSO
Que meu pulso chore
As lágrimas vermelhas do enjeito
Que vomite a morte de um sonho tísico
E as lembranças
Que ainda resistem..
AGORA
Agora quero a solidão
Exijo a ausência de todos
Agora quero a solidão
Pois não cabe ao pulso
Desviar-se na navalha
Nem à bala
desviar-se do curso
Após o disparo
Agora
Exijo a solidão que me definha
Mas que me é sincera
-não comporto vultos ao meu redor
apenas a solidão assistirá
meus últimos instantes
ENQUANTO
Enquanto a iminente morte
Abrevia meus passos sobre a terra
Meu espírito errante
Erra
DESTINO
...e o destino se repete
com a frieza dos assassinos...
Repete-se em fúria
E com a máscara do acaso
tritura-me os olhos
Sepulta-me os sonhos
Vomita-me de mim
DENTES
A morte
Tem meu nome
Entre os dentes
JAMAIS
Jamais minha língua
Serpenteará em teu sexo
Provocará-te o êxtase
Que apenas em sonhos encontras
Jamais meus dedos
Percorrerá teu corpo
Com a ousadia dos bandeirantes
Prospectando segredos em tua pele
Jamais pousarei minha alma
Em tua vida...
As expectativas morreram
Cabe a nos apenas
Féretro e enterro dignos
INSÍGNIA
O que resta de mim
É o ridículo que enlouquece
Cravos, madeira e insígnia
Para um cristo impuro
O que resta de mim
É o assassínio dos sonhos
A purgação da esperança
Os espelhos
A morte eterna
CÉLULA
Eu sou o resto que sobrou de mim
A célula cancerosa
Boiando no vômito dos homens
O escarro pneumônico dos mendigos
O grito...
Eu sou o grito
Apenas
HÁLITO
Não me desmintas!
À mesa sinto o hálito acre de teu sexo
Sinto teu desejo
Correndo em tuas veias
Teus olhos mergulhados
Às possibilidades que, tola, negas
Não me desmintas!
São mais humanas que devassas tuas vontades
Teu desejo de por-te a meu jugo
Sob os pés de minha devassidão
Para que encontres a fêmea que te foge
Desejas em teu pescoço, sei
A coleira de meus olhos sentenciosos
Pôr-te deitada nua sobre meu colo
Enquanto inflamo tuas nádegas
Com minhas mãos
Não! Não me venha com farsas!
Não há máscara que cubra tua tesão
E a ânsia que possuis
De ver-te livre de teus medos
Entre nós
Guardaremos em segredo
Do afastar submisso de tuas coxas
Da vermelhidão de tuas nádegas
Do jorro em tua face
Venha então
Ou talvez nada haja
SILÊNCIO
Adoro ver o gozo
Antecipado em teus olhos
Ver teu jeito de menina
Ansiosa pela primeira grande ousadia
Exalando delícias pelo corpo
Comprimindo vigorosamente as coxas
Mordendo involuntariamente os lábios
Como se fosse arrancá-los
Adoro ver teus medos
Acorrentados ao pé da mesa
Enquanto te ergues e me abraças
Como se fosse a última vez
E tua voz
Doce como deva ser o paraíso
Embarga palavras que já desimportam
(o menor tremor de tuas mãos me excita, provoca...).
Adoro essa tua liberdade
Arrancada às tripas
E cada um de teus delírios
Que dividimos
Em silêncio
AOS QUE ME ERGUEM
Os que me erguem quando caio
Os que secam meus olhos quando choro
São apenas escravos de um devir
Que me exige vivo
Para que apodreça
BÊNÇÃO
Não quero a bênção estúpida dos tolos
Nem a condescendência dos hipócritas
Com seus atos meticulosamente medidos
Não quero o beijo frio dos sacro-santos
Nem o sexo vazio das prostitutas
Ou o perdão dos fracos
Quero apenas, por tudo o que sinto
O beijo úmido e entregue
Da morte
Poema UM (chegada)
Quero te fistar, violar
Te esquartejar com meu pau tua carne
Lamber teu suór como cachorro
Quero estuprar teu último limite (se existir)
Quero gozar em teu rosto
Espalhar nele minha porra
e te fazer lamber, gulosa, meus dedos
Derramar paixão em tuas vísceras
Florir estrelas em cada um de teus poros
E derreter
Como derreteu Amelie Poulin
Quero te dominar
Dobrar teu corpo
Como se dobram origamis
Ardendo em ti
Dentro de ti
Como num parto ao inverso
Ardendo, lava
Pedra ígnea e derretida
Quero tua boca e tua garganta
Acarinhar com meus dedos
O colo de teu útero
Fistar teu cu
Fazer morada nele
Quero
Por algumas horas
Ser inteiro teu
Te fazendo inteira
Minha
Poema DOIS (março)
Em março
Metade de meu corpo morreu
Metade de meu corpo
Era a metade do teu